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Imagine um solo que permanece congelado durante todo o ano, mesmo no verão. Agora, pense que esse solo ocupa cerca de 24% da superfície terrestre no Hemisfério Norte, influenciando florestas, tundras, infraestrutura humana e até o equilíbrio climático global.

Esse fenômeno recebe o nome de permafrost, uma das estruturas naturais mais enigmáticas e atualmente mais ameaçadas pela mudança climática.

Apesar de sua aparência inerte, o permafrost guarda em si milhares de anos de história biológica, gás metano, carbono orgânico e microrganismos preservados.

O problema é que, com o aquecimento do planeta, esse solo está derretendo em ritmo acelerado, trazendo à tona não apenas gases que intensificam o efeito estufa, mas também ameaças biológicas, geológicas e sociais.

O que é o Permafrost?

O termo permafrost vem da junção das palavras inglesas permanent (permanente) e frost (geada), e se refere a um tipo de solo que permanece congelado por pelo menos dois anos consecutivos.

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Porém, na maioria das vezes, esse congelamento dura milhares de anos, especialmente nas regiões polares.

Ele é composto por mistura de solo, rochas e matéria orgânica congelada, e pode ter profundidades que variam de poucos metros até mais de 1.500 metros, como ocorre na Sibéria e no norte do Canadá.

O permafrost divide-se em duas camadas:

  • Camada ativa: a parte superficial que descongela no verão e volta a congelar no inverno.
  • Camada perene: a porção inferior, que permanece congelada o ano todo.

Onde o Permafrost é encontrado?

As principais regiões com ocorrência de permafrost estão situadas no Círculo Polar Ártico, incluindo:

Há também áreas de permafrost alpino em cordilheiras elevadas como os Alpes, o Himalaia e os Andes, embora menos extensas.

Importância ecológica e climática

Embora pareça um simples solo congelado, o permafrost tem funções ambientais fundamentais:

1. Armazena carbono

Estima-se que o permafrost armazene mais de 1.500 bilhões de toneladas de carbono, o dobro da quantidade presente na atmosfera atualmente. Isso ocorre porque a matéria orgânica (plantas, raízes e restos animais) nunca se decompôs completamente devido às baixas temperaturas.

2. Regula ecossistemas árticos

O congelamento e descongelamento anual da camada ativa influenciam a vegetação, os ciclos hídricos e o comportamento de espécies como o urso-pardo, a rena e a lebre ártica.

3. Afeta a estabilidade do solo

Muitas infraestruturas humanas em regiões polares — como estradas, aeroportos e oleodutos — são construídas sobre o permafrost. Quando ele derrete, o solo afunda, provocando erosões, desabamentos e danos estruturais.

O permafrost está derretendo?

Sim, e de forma preocupante. O aumento global das temperaturas — especialmente nas regiões polares, que aquecem até quatro vezes mais rápido que o resto do planeta — tem provocado o degelo acelerado do permafrost.

Esse processo tem impactos profundos:

1. Liberação de gases de efeito estufa

Com o degelo, a matéria orgânica congelada começa a se decompor, liberando metano (CH₄) e dióxido de carbono (CO₂). O metano, por exemplo, é 25 vezes mais potente que o CO₂ no aquecimento global.

2. Retroalimentação climática

Quanto mais o permafrost derrete, mais gases são liberados, e quanto mais gases na atmosfera, mais o clima aquece — criando um ciclo de retroalimentação climática perigoso.

3. Riscos biológicos

Pesquisas recentes encontraram vírus e bactérias antigos preservados no permafrost, alguns com milhares de anos. A liberação desses microrganismos pode representar riscos à saúde pública, como já foi observado em surtos localizados na Sibéria envolvendo o bacilo do antraz.

Casos e consequências já observadas

  • Em 2016, uma onda de calor no Ártico causou o degelo de permafrost na Sibéria, liberando esporos de antraz que infectaram dezenas de pessoas e mataram milhares de renas.
  • Em partes do Alasca, vilarejos indígenas estão sendo deslocados porque o solo instável destruiu casas e tornou o terreno inabitável.
  • Infraestruturas como a estrada Transiberiana e bases militares da Rússia já sofreram com rachaduras e afundamentos devido ao degelo.

O que está sendo feito?

A comunidade científica tem monitorado o permafrost com sensores térmicos, satélites e drones, na tentativa de mapear as áreas mais vulneráveis. Algumas estratégias incluem:

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  • Reforço de construções com fundações adaptadas ao degelo
  • Redução global das emissões de carbono, como medida preventiva
  • Estudos em biotecnologia e microbiologia para analisar riscos sanitários

Organizações como a International Permafrost Association (IPA) reúnem pesquisadores para estudar o fenômeno e suas implicações socioambientais.

Conclusão

O permafrost é muito mais do que solo congelado. Ele é um arquivo natural de carbono, história ambiental e mudanças climáticas.

Seu degelo representa um dos maiores desafios do século XXI, por desencadear impactos locais e globais.

Entender o permafrost é compreender parte do funcionamento do nosso planeta e o quão interligado ele é, desde as tundras geladas da Rússia até as emissões de carbono de centros urbanos tropicais.

A preservação e o monitoramento do permafrost não são apenas uma preocupação de cientistas polares. São uma responsabilidade coletiva, porque o que acontece no Ártico, inevitavelmente, reflete em toda a Terra.